“Sem Açúcar Adicionado”: Verdade ou Meia Verdade na Alimentação Infantil?

Hoje em dia, os rótulos dos alimentos piscam o olho aos pais mais atentos: “sem açúcar adicionado”. Parece música para os ouvidos de quem quer seguir uma alimentação saudável para crianças — mas será mesmo o que parece?

Spoiler: nem sempre. Vamos desembrulhar esta expressão com calma e sem rodeios.

O que quer dizer “sem açúcar adicionado”?

Tecnicamente, um alimento “sem açúcar adicionado” não tem açúcar branco, mel, xarope de glicose, dextrose ou outros tipos de adoçantes calóricos acrescentados na produção. Parece ótimo, certo?

O problema é que isso não significa que o produto não tem açúcar nenhum. Pode conter açúcares naturalmente presentes — como os das frutas, do leite ou dos cereais — e até ingredientes processados que funcionam como açúcar… só que com outro nome.

Açúcares escondidos: A outra face da moeda

Muitos produtos com o selo de “sem açúcar adicionado” escondem o jogo. Como? Usam concentrado de fruta, puré de tâmaras, sumos de fruta “naturais” ou mesmo xaropes disfarçados. O sabor doce continua lá — e o impacto no corpo, também.

É aqui que entra a educação alimentar infantil: ensinar os pais (e mais tarde as próprias crianças) a perceber o que estão realmente a consumir.

Por exemplo: uma papa “sem açúcar adicionado” com banana, maçã e concentrado de sumo de uva… pode acabar com mais açúcar do que um bolo caseiro.

Mesmo a fruta — que é, sem dúvida, uma escolha saudável — neste contexto perde parte dos seus benefícios quando não é consumida ao natural. Ao ser transformada em sumo, puré ou concentrado, perde fibras importantes, o que acelera a absorção dos açúcares e reduz o efeito saciante. Resultado? Mais picos de glicemia, menos saciedade e um apetite menos regulado.

A melhor estratégia? Oferecer fruta inteira ou em pedaços, sempre que possível. É simples, prático — e respeita a natureza do alimento tal como foi pensado para ser comido.

Qual o problema do excesso de açúcares naturais?

Mesmo os açúcares “naturais”, em excesso, podem contribuir para:

  • Vício pelo sabor doce;
  • Menor aceitação de sabores amargos ou neutros (como vegetais);
  • Aumento do risco de cáries;
  • Alterações no apetite — a criança come menos comida “verdadeira”;
  • E claro, desequilíbrio na nutrição infantil como um todo.

Por isso, o ideal é que o paladar da criança, desde a introdução alimentar, se habitue aos sabores genuínos dos alimentos, sem necessidade de máscaras doces.

Como escolher melhor?

  1. Lê os rótulos — mesmo quando o pacote parece uma boa opção.
  2. Desconfia dos ingredientes com nomes compridos ou pouco familiares.
  3. Prefere alimentos em que o doce vem da própria fruta, usada de forma simples.
  4. Evita produtos com “concentrados” ou “extratos” doces, especialmente se forem logo dos primeiros ingredientes.

Lembra-te: o lugar dos açúcares, mesmo naturais, é no contexto de um alimento completo (fruta inteira, por exemplo), e não num puré industrial disfarçado.

Alternativas doces, mas inteligentes

Na prática, um lanche saudável pode ser docinho e nutritivo sem açúcar adicionado. Exemplos?

  • Papa de aveia com banana madura e canela;
  • Bolinhos de batata-doce e coco ralado;
  • Panquecas de aveia com maçã ralada.

Há muitas receitas para crianças onde o sabor doce vem da natureza — e isso é mais do que suficiente!

E na alimentação escolar?

A alimentação escolar deve acompanhar esta lógica. Produtos industrializados “sem açúcar adicionado”, mas cheios de fruta processada, não são melhores do que uma peça de fruta fresca e pão integral. Sempre que possível, aposta no simples, no que se mastiga, no que se reconhece à primeira dentada.

Conclusão

Construir uma ementa infantil saudável é também isso: saber que “sem açúcar adicionado” não é sinónimo de “livre de açúcar”, e que os sabores naturais devem ser os protagonistas da história.

Menos marketing, mais verdade. Porque quando o doce vem da vida real, o corpo agradece e o futuro também 🍎🥣

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