Doces, refrigerantes, bolachas, cereais de pequeno-almoço… o açúcar parece estar sempre presente na vida das crianças. Mas a ciência mostra cada vez mais que o impacto do consumo excessivo de açúcar não se limita à infância. Pode acompanhar-nos (e prejudicar-nos) por toda a vida.
O doce que fica na memória (e no paladar)
O paladar forma-se nos primeiros anos de vida. Estudos revelam que quanto mais cedo uma criança é exposta a alimentos muito açucarados, maior a probabilidade de continuar a preferi-los na idade adulta.
Ou seja: não é só uma questão de saúde imediata — é também uma questão de hábitos que se enraízam e que podem ser difíceis de mudar mais tarde.
Consequências a longo prazo
Um estudo recente publicado na revista Science analisou milhares de pessoas e encontrou algo surpreendente:
- Adultos que cresceram com dietas mais ricas em açúcar apresentaram risco 35% menor de diabetes e 20% menor de hipertensão se tivessem vivido em épocas de restrição de açúcar (como no pós-guerra no Reino Unido).
- A exposição precoce a excesso de açúcar deixou marcas na saúde metabólica ao longo da vida.
Isto reforça a ideia de que o que acontece nos primeiros anos alimenta (literalmente) o futuro.
Impactos imediatos nas crianças
Os efeitos não demoram a aparecer. O excesso de açúcar na infância está associado a:
- Maior risco de excesso de peso e obesidade (hoje, já afeta 1 em cada 5 crianças em idade pré-escolar nos EUA — e em Portugal os números também preocupam).
- Problemas dentários precoces.
- Maior ingestão calórica sem valor nutricional, o que “rouba espaço” para alimentos mais importantes como fruta, legumes e cereais integrais.
Onde está o açúcar escondido?
Não são só os rebuçados ou os bolos. Açúcar adicionado aparece em:
- Refrigerantes e sumos industriais.
- Iogurtes e papas infantis.
- Cereais de pequeno-almoço.
- Molhos e até em produtos salgados processados.
Segundo a OMS, crianças maiores de 2 anos não deveriam consumir mais de 10% das calorias diárias em açúcares adicionados (idealmente menos de 5%). Para muitos, isso significa 100 a 150 calorias/dia no máximo — muito abaixo das quantidades que a maioria consome.
O que as famílias podem fazer
- Oferecer fruta fresca em vez de sumos ou bolachas.
- Reservar os doces para ocasiões especiais, sem os transformar em “recompensas”.
- Ler rótulos — muitas vezes o açúcar aparece disfarçado (xarope de milho, dextrose, maltose…).
- Apostar no “prato colorido”: fruta, legumes, proteína magra e cereais integrais ajudam a equilibrar o apetite.
Uma mudança que vale para a vida
A mensagem da ciência é clara: reduzir o consumo de açúcar nos primeiros anos é uma forma poderosa de proteger a saúde ao longo da vida.
Não se trata de proibir totalmente, mas de dar espaço a outros sabores, ajudando as crianças a criar um paladar mais variado e equilibrado.
Afinal, o maior presente que podemos dar é um futuro doce… mas saudável.