Dieta feita à medida com base na genética e no microbioma… será que faz mesmo sentido aos 5 anos?
O João tem 7 anos. Nunca gostou de leite. Vive com o nariz entupido e detesta peixe.
Os pais, preocupados, decidem fazer um teste genético alimentar. Resultado?
Intolerância leve à lactose. Predisposição para défice de ómega-3. E genes que sugerem maior risco de obesidade.
A recomendação: um plano alimentar personalizado, cheio de alimentos específicos para o perfil genético do João.
Faz sentido? Ou estamos a antecipar um problema que talvez nunca se confirme?
O que é nutrição personalizada e até onde vai?
Trata-se de criar um plano alimentar com base em:
- Genética: variantes de genes que influenciam absorção de nutrientes, metabolismo, intolerâncias
- Microbioma: perfil das bactérias intestinais da criança
- Histórico familiar e estilo de vida
🎯 A promessa? Alimentar de forma mais eficiente, prevenir doenças, melhorar o bem-estar.
Hoje, há kits que recolhem saliva ou amostras de fezes em casa. Depois, chega um relatório — com gráficos, alertas e até listas de alimentos “bons” e “maus”.
Funciona? A resposta curta: depende.
Sim, há ciência sólida por trás de algumas recomendações.
Exemplos:
- Crianças com genes que prejudicam a metabolização de lactose (açúcar naturalmente presente no leite)
- Perfis genéticos que influenciam apetite, saciedade ou preferência por doces
- Microbiomas associados a maior risco de inflamação ou obesidade
Mas…
⚠️ A maioria dos dados ainda não tem aplicação direta e consensual na infância.
A ciência está a andar depressa, mas ainda com cautela. Nem todos os testes são iguais. E muitos relatórios são… otimistas.
Personalização ou paranoia precoce?
O risco está em transformar uma criança saudável num mini-paciente crónico.
🔬 Em querer controlar tudo, mesmo antes de haver sintomas.
🥦 Em cortar alimentos com base em “possíveis sensibilidades” que nunca se manifestaram.
Como alerta a geneticista clínica Inês Ramalho:
“Não basta ler o gene. É preciso ler a criança. E a realidade onde ela vive.”
Então quando pode ser útil?
Pode fazer sentido quando:
- A criança apresenta sintomas persistentes (intestinais, dermatológicos, respiratórios) sem causa clara
- Há histórico familiar relevante (doenças metabólicas, celíaca, intolerâncias graves)
- O médico ou nutricionista sugere, com base em avaliação clínica
⚠️ Fora isso, vale mais observar o prato do que o ADN.
E o lado emocional da coisa?
Dizer a uma criança que “não pode” isto ou aquilo por causa dos genes pode instalar medos desnecessários, ou rótulos difíceis de tirar mais tarde.
Imagine: “És propenso à obesidade” aos 6 anos. Como se lida com isso sem culpa ou ansiedade?
Conclusão com os pés no chão:
Nutrição personalizada tem potencial. Muito.
Mas também exige contexto, equilíbrio e profissionais sérios a interpretar os dados.
A personalização começa por ouvir a criança, observar o seu corpo, entender a sua rotina e só depois, se fizer sentido, investigar mais a fundo.
Porque às vezes, o melhor plano alimentar… é mesmo o mais simples: comida variada, refeições partilhadas e tempo para crescer sem pressa.
Quer uma comparação entre os testes mais comuns e o que cada um realmente analisa? Posso preparar um quadro claro, sem rodeios 😉
Fontes:
- Como a individualização da dieta pode melhorar os resultados de saúde? – Atlântica Editora, https://ojs.atlanticaeditora.com.br/index.php/Nutricao-Brasil/article/view/276 12.
- Tamanho do mercado nootrópicos | Previsão – 2033 – Business Research Insights,
https://www.businessresearchinsights.com/pt/market-reports/nootropics-market-119376 11. - Nootrópicos e genética – Versa Gene, https://versagene.com.br/nootropicos-e-genetica/ 10.