Quando falamos em nutrição infantil, pensamos logo em legumes, sopas, cálcio, ferro. Tudo certo. Mas e se disséssemos que comer bem, desde cedo, também afeta como a criança sente, pensa… e até ama?
A ciência tem vindo a mostrar, e a insistir: a comida é mais do que corpo. É cérebro, humor e ligação social.
O intestino não é só barriga.
Dentro do nosso corpo vive um segundo cérebro, e não é metáfora. O intestino, recheado de neurónios e milhares de milhões de microrganismos, comunica com o sistema nervoso central através do eixo intestino-cérebro.
Nos bebés e crianças, essa ligação está em plena construção. E tudo o que entra pela boca influencia esse equilíbrio: microbiota, neurotransmissores, resposta imunitária.
“Uma alimentação pobre em variedade e rica em processados pode alterar a flora intestinal e impactar o humor, o sono, até a capacidade de foco”, explica o neurocientista Hugo V., investigador em desenvolvimento infantil.
O prato que ajuda a regular emoções
Quando falamos em “comer bem”, não é só evitar açúcar. É garantir variedade, fibras, gorduras saudáveis, alimentos fermentados, texturas vivas. É dar ao corpo os ingredientes certos para construir equilíbrio químico e emocional.
- O triptofano, presente em ovos e banana, ajuda a formar serotonina, o “neurotransmissor da felicidade”
- A fibras vegetais alimentam bactérias boas do intestino
- O ferro e o zinco apoiam o desenvolvimento cognitivo e a atenção
- As gorduras ómega-3 influenciam a memória e o controlo emocional
Parece exagero? …é só bioquímica.
Relação com a comida = relação consigo próprio
Mas não é só o que se come, é como se come. O ambiente alimentar é um espelho do ambiente emocional.
— Comer com prazer e sem pressões ajuda na regulação emocional.
— Participar nas escolhas e preparação dos alimentos promove autoestima.
— Ser ouvido à mesa treina empatia, escuta, tempo partilhado.
A mesa é o primeiro palco social da criança. Ali aprende-se a esperar, a respeitar, a saborear, a falar e a escutar.
E quando tudo isso é atropelado por ecrãs, pressa ou controlo excessivo… a comida vira um campo de batalha, não de nutrição emocional.
Escolas e famílias: as novas fronteiras da saúde mental
A boa notícia? Já há projetos a ligar nutrição e saúde mental desde cedo. Menus escolares pensados com critério. Oficinas de culinária com crianças. Sessões com pais sobre como a comida pode ser aliada, e não um castigo.
Quando envolvemos os miúdos na escolha dos ingredientes e explicamos para que serve cada alimento, a recetividade muda. Eles percebem que não é só comer, é cuidar de si.
Comer bem é um gesto de amor — não uma obsessão
Não se trata de perfeição. Nem de modas. Trata-se de construir uma infância onde o corpo é respeitado, o prazer não é tabu e o cérebro tem o combustível certo para crescer com saúde.
É parar de ver a comida apenas como “bom” ou “mau” — e começar a vê-la como relação. Com o mundo. E consigo próprio.